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História do Centro Espírita Léon Denis

Sob o aspecto espiritual

Sempre que nos reuníamos, ainda na casa da nossa irmã Glória, o Espírito Balthazar acompanhava os trabalhos e era ele quem dava as diretrizes, as ordens para a Instituição. Nesse período, tivemos também muito de perto a presença de Dr. Bezerra de Menezes. Sempre o víamos na casa de D. Glória, e ele nos ajudava muito no trabalho que era feito lá. Cheguei a ver, também, por várias ocasiões, o Espírito Scheilla. Acredito que a presença de Scheilla se deva ao fato de ela também trabalhar com a nossa irmã Brunilde. Na ocasião, eu trabalhava no Lar de Tereza, dirigido por Brunilde e Vera Simões, e na Casa do Coração, onde iniciei a vida espírita. Essas duas instituições, uma no Leblon e outra em Ipanema, existem até hoje. Quando a sede da nossa Instituição foi transferida para a Rua Abílio dos Santos,

nas últimas preces que fizemos ainda na casa de D. Glória, ouvimos de Balthazar uma espécie de despedida. Ele então nos disse que, a partir dali, não estaria tão presente junto a nós. Muito emocionado, perguntei-lhe o porquê. Ele me respondeu que o Centro iria crescer muito e que ele não era afeito a a trabalhos com multidões. Disse ainda que um outro espírito, que sabia lidar com multidões, se apresentaria na época própria.
Logo na primeira reunião que tivemos na atual sede, ainda em sua construção antiga, apareceu o Espírito Dr. Hermann, que então assumiu o trabalho. Um detalhe que se deve ressaltar é que Balthazar nos falou, na ocasião, que o Dr. Hermann ficaria à testa do trabalho, como verdadeiro elemento de ação entre o Plano Espiritual e a Terra, mas que o diretor continuaria sendo ele, Balthazar.

Durante muitos anos, nós fizemos umas separatas de O Livro dos Espíritos, que o próprio Dr. Bezerra de Menezes supervisionou; mas Cairbar Schutel foi quem primeiro nos estimulou a formar um serviço de divulgação. Tanto é que, mais tarde, quando criamos a gráfica, o fizemos sob inspiração dele. Nessa mesma Sempre ficou clara, portanto, esta definição de área de ação: Dr. Hermann no trato direto com as pessoas e Balthazar estabelecendo as diretrizes gerais da Instituição. Os dois sempre fizeram esse trabalho comigo, ora um, ora outro, determinando que se fizesse cada serviço na época própria. Nesse período, todos nós registramos a presença de muitos espíritos amigos no decorrer dos serviços. Cairbar Schutel foi quem primeiro nos falou da possibilidade da difusão de páginas de mensagens impressas. Durante muitos anos, eu senti a presença de Vantuil de Freitas do meu lado e, até hoje, quando a gráfica passa por problemas mais sérios, eu diviso a figura dele, percebo a presença dele, sinto a presença dele como um dos benfeitores da nossa gráfica,

sem falar no próprio Cairbar Schutel. Certa ocasião, tivemos um período de dificuldade muito grande e pensei seriamente em fechar a gráfica. Foi quando o nosso irmão Vantuil de Freitas, que durante muitos anos presidiu a FEB, se apresentou, dizendo-me que não o fizesse, porque ele iria me dar uma supervisão, e que eu deveria ter força para prosseguir, porque o serviço de difusão doutrinária era realmente de muita responsabilidade e de muitas reações no Plano Espiritual. Devo dizer a vocês que, nessa ocasião, eu perguntei a ele: — Dr. Vantuil, o senhor já é ocupado com seu trabalho na FEB… Por que está dizendo isso para mim? Então, ele me disse que a FEB já tinha todo um programa estabelecido, todo um programa organizado e que o Centro Léon Denis iria fazer um trabalho diferenciado, iria publicar um trabalho que a FEB já não tinha mais interesse ou condições de publicar. Foi a primeira vez que eu tive uma visão de que nosso serviço seria publicar livros realmente, exclusivamente doutrinários, sem serem livros comerciais.

Professor Ernesto Bozzano foi visto por mim várias vezes nas sessões de desobsessão. Certa vez, eu perguntei a ele por que estava ali, na sessão de desobsessão, e ele me falou que tinha feito ou acompanhado, durante muitos anos, experimentações mediúnicas com o objetivo exclusivo de comprovar a existência do Plano Espiritual. Isso se deu há uns quinze a vinte anos, mais ou menos, quando ele então me disse que estava participando das sessões de desobsessão para observar como era feito um trabalho de experimentação mediúnica com o objetivo exclusivo de curar alguém, de curar espíritos. Disse que nunca havia feito experimentações com esse sentido e que estava participando das sessões, para ver como era conduzido um trabalho daquele estilo. Foi muito interessante o Prof. Bozzano, por quem sempre tive muito respeito — não só por ele, mas pelos seus livros, seus escritos — me dizer isto: que estava ali apenas vendo como funcionava a experimentação feita com o objetivo não de comprovação propriamente dita, mas sim de convivência com o Plano Espiritual, com vistas ao socorro a alguém. Vi Prof. Bozzano durante muito tempo, mais de anos, participando das sessões de desobsessão. Não posso dizer que o tenha visto trabalhando em alguma tarefa; eu o via acompanhando o serviço.
O Espírito Bezerra de Menezes, nessa ocasião, eu passei a ver menos, talvez até por conta de estar envolvido em

outras tarefas mesmo. O Espírito Dr. Paul Gibier, o conhecido francês que vi muitas vezes também no Centro, disse-me que era um dos cooperadores do trabalho de divulgação doutrinária, que era um daqueles que divulgavam, que ajudavam e tinham se interessado muito pela divulgação espírita. Disse que estaria cooperando com a corte espiritual da Casa, fazendo também a divulgação do Espiritismo mais voltada para o lado científico.Também vejo ainda com freqüência esse nosso querido irmão. Estava falando do Prof. Bozzano, dizendo que ele estava indo conhecer as novas experiências mediúnicas com pessoas cristãs. Falei também do Dr. Paul Gibier, que sempre nos deu muita atenção. Já falei do encontro com Léon Denis, que foi o motivo de termos dado seu nome ao Centro.
Tivemos, assim, muitos espíritos de pessoas amigas, que deram testemunhos da sua presença, sem serem benfeitores conhecidos, sem serem guias espirituais; entretanto, eram benfeitores, muitos eram amigos que desencarnaram e permaneceram ajudando a casa; pessoas de lembrança forte, como a Tia Elza, como o Rubens e outros mais, presentes na nossa lembrança.
O Espírito André Luiz, o vimos várias vezes nas aulas de terças-feiras. Há ocasiões, mesmo, em que, sendo o assunto muito complexo, eu não tenho nenhuma vergonha de dizer, é praticamente ele quem conduz o
raciocínio.

Algumas vezes, eu sinto que a aula só ocorre por causa dele, da presença dele, como, por exemplo, quando ele falou da glândula pineal. Ele me mostrou como é uma pineal; mostrou-me seu tamanho do ponto de vista físico e do ponto de vista espiritual. Ele me deixou ver a pineal de algumas pessoas, para que eu pudesse comparar, sentir. O irmão Clarêncio, citado na obra de André Luiz, que é um espírito por quem sempre tivemos grande admiração, foi visto por mim várias vezes. Quando resolvemos convidar a Marília para fazer a obra do Centro Espírita Clarêncio, tornamos a vê-lo, e ele nos disse que teria muito prazer em tomar conta de uma Instituição que poderia produzir um excelente trabalho cristão. Como nós vemos, hoje em dia, o Centro Espírita Clarêncio, tranqüilamente, tem produzido um trabalho muito bonito, muito importante, cheio de carinho, cheio de amor às pessoas e com um crescimento muito rápido. Não tenho a menor dúvida de que se deve esse crescimento à posição do próprio Clarêncio ajudando a Casa. Teria muitos outros espíritos de quem falar. No momento, eu não me recordo; mas, com toda a certeza, no decorrer do tempo, recordarei de outras almas, outros espíritos amigos que se manifestaram e que nos dão seu apoio.

 Falarei, agora, de dois espíritos que estão sempre presentes na nossa Casa: Balthazar e o Dr. Hermann.
Balthazar é um espírito que se apresenta como um daqueles monges do Tibet. Ele é alto, cabelos muito pretos, mas com um turbante. Eu o vejo dessa forma, com barba preta, totalmente preta e eu digo que seu cabelo é preto por causa da barba, pois ele sempre se apresenta de turbante. Já o vi, também, trajando um tipo de roupa comprida e, certa vez, pude vê-lo numa posição de descanso, sem o turbante. Nessa ocasião, em que o vi sem o turbante, percebi-o como um homem calvo, mas de barba forte, grossa, pesada. Seu olhar é muito penetrante; a luz que o circunda é azulada brilhante, e ele é um ser totalmente sério. Nunca o vi sorrindo ou tendo uma atitude que significasse um gesto descontraído, de sorriso, de informalidade. Ele não é grosseiro; é sério, totalmente sério, e quando tem que me chamar a atenção por alguma coisa, ele não fala; só mostra o fato errado e deixa que eu conclua. Balthazar é diferente do Dr. Hermann, que age de forma paternal. Dr. Hermann, quando tem que me chamar a atenção, o faz como um pai, mesmo. Ele fala diretamente: “está errado”, “você não fez direito”. Dr. Hermann age como um pai. Balthazar não faz esse papel de pai; ele apenas aponta o erro e mais nada, e o resto eu que conclua.

Quando vê que não faço as modificações necessárias, ele pura e simplesmente se retira, me dá as costas e me deixa, como se diz, por minha própria conta, pensando sozinho, falando sozinho ou agindo sozinho. Ele não tem o hábito de argumentar ou discutir coisa nenhuma; ele dá as costas e vai embora, e eu que aprenda a me conduzir.
Balthazar é um espírito bondoso, é realmente um professor. Disse-me que suas origens são muito antigas e que, em uma de suas últimas encarnações, ou talvez a última, dirigia um templo, que ele me mostrou destruído, na região que se chama hoje de Vietnam. Na época, ainda se chamava Indochina, denominação francesa; hoje é o Vietnam. Ele me mostrou o templo, coberto pelo mato e já destruído. Era um pequeno templo, nada grandioso, e ali ele dizia que havia uma escola com uns vinte e poucos monges, que treinavam, estudavam as leis do amor ao próximo. Ele nunca me falou se era Budismo ou outra filosofia. Apenas falava em leis do amor ao próximo.
Sua posição de socorro às pessoas é uma posição discreta, absolutamente discreta; mas ele, eu posso afirmar, é um ser que luta pelas almas que lhe pedem apoio. Entretanto, se estas não demonstram desejo de serem curadas, isto é, se não fazem o esforço preciso para isso, ele pura e simplesmente diz assim: “Deixemos para mais tarde; agora ainda não está capacitado para entender

qualquer forma de auxílio”.
A mim me parece que ele é um espírito bondoso, mas que não vai perder tempo com pessoas teimosas. E pelo que percebo, ele não perde tempo mesmo com coisas que não vão ter resultado e com pessoas teimosas. Outra característica do Espírito Balthazar é a moderação. Ele é também bastante decidido em suas atitudes. Alguns anos atrás, em minhas preces, na própria Mallet, perguntei a ele se não queria interferir, interceder junto à Espiritualidade para que eu pudesse comprar um dos terrenos ao lado da Mallet. Sua resposta foi categórica: “Você se contente com o que tem, porque sequer aproveitou tudo o que tinha que aproveitar no terreno que tem em mãos.” Disse isto e em seguida desapareceu. Foi então que resolvemos fazer aquele edifício de três andares. Aí eu realmente percebi que poderia fazer muito mais coisas naquele terreno, antes de fazer qualquer outra solicitação.
Balthazar é um espírito dessa categoria e, sem dúvida, é ajudador. Já o vi me levando para uma região de sofrimento, de espíritos em sofrimento. Passávamos por espíritos que uivavam, que pegavam nas roupas dele e tentavam me pegar, porque estavam muito sofridos numa posição de extrema dor, de extremo sofrimento; eles gemiam, gritavam e Balthazar passava olimpicamente por entre aqueles espíritos, como se nada o detivesse.

De vez em quando, ele apontava para um, para outro que demonstravam posição de serem socorridos. Aí, então, eu via um servidor espiritual que vinha atrás de nós e que eu não tinha visto antes. Um ou mais servidores que então se detinham em recolher aqueles espíritos apontados por ele. Balthazar não mostrava comoção nem horror; ele apenas trabalhava com a observação de que aqueles espíritos precisavam ou não ser socorridos.
Quando eu digo que ele fica olimpicamente colocado, não quero dizer que seja insensível. Estou mostrando apenas o caráter dele como um ser muito sério. Uma vez, em desdobramento, durante o sono, eu o vi procurando um endereço. Eu fazia parte de uma equipe que estava promovendo socorro a umas pessoas. Em determinada rua, eu o vi procurando uma casa, para que ele mesmo socorresse a pessoa necessitada. Ele procurava a casa, com uma espécie de papel na mão que continha o endereço. Assim, me parecia que ele estava procurando aquele endereço para socorrer; pura e simplesmente, para socorrer, o que demonstra que ele é um espírito socorrista. Vejo-o muito nas sessões de desobsessão também amparando as pessoas em sofrimento. Ele ainda se faz presente nas aulas das sextas-feiras às 18h, quase sempre conduzindo o estudo em torno dos livros,

de Kardec. Frequentemente, ele dirige essas aulas. Ficam aqui essas breves palavras sobre Balthazar. Falarei, agora, sobre o Dr. Hermann.
Falando da presença de Dr. Hermann na Casa Espírita de Léon Denis, digo que nunca soube da existência desse espírito antes. Só vim a conhecê-lo quando nos transferimos para a sede atual da Rua Abílio dos Santos. Enquanto eu trabalhava na casa da mãe da Cidinha, D. Glória, nunca vi o Dr. Hermann; mas devo dizer, a bem da verdade, que ele já me acompanhava. A própria D. Glória, que era médium passista vidente, o via, através de um copo d’água. E este é um detalhe curioso da mediunidade de D. Glória: ela não via diretamente o espírito; precisava de um copo d’água, para que o espírito refletisse a sua imagem no copo e ela pudesse vê-lo.
D. Glória tinha características muito interessantes, como médium. Tinha capacidade de dar passes nas pessoas que tivessem dor de cabeça e aliviá- las da dor. Ao dar o passe e fazer a oração, não dizia que dava passe, dizia que fazia oração e impunha as mãos. Muitas vezes, ela me perguntava: _Você conhece um espírito de óculos e rosto avermelhado? Eu respondia: _Não, não conheço.

Ela me dizia que via esse espírito nos momentos em que dava passe, aliviando dor de cabeça.
Eu não conhecia mesmo o Dr. Hermann. Por isso eu digo que ele já nos acompanhava muitos anos antes do trabalho ser instalado definitivamente. Mais tarde falarei da presença dele estabilizando a minha vida profissional, para que eu pudesse trabalhar no Centro.
Durante os seis anos, mais ou menos, que permanecemos fazendo o Culto no Lar, na casa da D. Glória, sempre quem aparecia era o Espírito Balthazar. Muitas vezes eu vi o Espírito Scheilla, que nos dava passe, assim como Dr. Bezerra de Menezes, que nos deu muitas orientações; mas, repito, nunca vi o Dr. Hermann. Quando nos mudamos de residência, ou seja, da casa de D. Glória para a Rua Abílio dos Santos, onde o Centro se expandiria, Balthazar avisou que viria um espírito capaz de lidar com multidões. Fiquei imaginando que espírito seria esse.
Nas primeiras sessões do Centro, quando passei a incorporá-lo,

cheguei mesmo a pensar que se tratava do Espírito Scheilla, por causa da característica da fala alemã. Mas, ao mesmo tempo em que eu achava que fosse ela, pelo falar, eu sentia, pela presença, que era um outro espírito. Eu sentia, pela energia dele, que não se tratava de Scheilla, pois eu já conhecia a vibração dela, pelas incorporações em casa de D. Glória.
Ao mesmo tempo, eu percebia que a linha de raciocínio das mensagens era inteiramente diferente. Scheilla era um espírito de coração voltado para a evangelização das pessoas, e esse espírito, que então se apresentava, era voltado para o bem, mas não para o processo de evangelização. Eu sentia que o seu papel era de teor curativo, era de atividade curativa. Ele foi se apresentado, até que, um dia, eu o vi. Vi-o chegando numa espécie de nuvem rósea, de uma tonalidade muito suave, muito suave mesmo. Ele olhou para mim e sorriu. Não me disse seu nome, porque é pública e notória a minha incapacidade de ouvir nomes de espíritos. Eu os vejo, mas não consigo ouvir-lhes os nomes.

Dr. Hermann, então, se apresentou para mim. Eu o vi sorrindo, e ele nada falou. Nessa ocasião, eu freqüentava a casa de Brunilde. Foi na casa de Brunilde que comecei a estudar Espiritismo. A primeira sessão propriamente espírita que eu assisti foi na casa dela, quando reconheci, em um retrato na parede, o espírito que havia visto. Simultaneamente, eu me lembrei das vezes em que a D. Glória dizia ver um espírito ajudando-a a tirar a dor de cabeça das pessoas. Naquele momento, eu vi o retrato dele, feito pela D. Dinorá, que é o original, com a inscrição: “Fritz Hermann” e concluí que era ele. Quando tornei a encontrá-lo no Centro, ele se apresentou novamente e eu quis confirmar se era ele o espírito do retrato. Ele respondeu afirmativamente e disse que, a partir daquele momento, estaria assumindo a direção das atividades do Centro, embora estivesse subordinado às ordens do nosso irmão Balthazar. Cabe, aqui, um parêntese. Não se vê entre os espíritos essa questão de subordinação e insubordinação. O que se vê é que os espíritos atendem àqueles que lhes são superiores e naturalmente não lhes opõem opiniões, discussões ou o que seja. Eles reconhecem um espírito diretor, e não dizem que o espírito é superior ou inferior a eles; apenas dizem que lhe são subordinados, e isso é muito diferente da nossa condição humana. É comum, entre os homens, criarem- se polêmicas, confrontos, discutirem-se ordens.

Os espíritos simplesmente dizem que estão ali para trabalhar, que têm um serviço para fazer. Dr. Hermann disse que estava subordinado aos trabalhos do nosso irmão Balthazar e não falou mais nada e de nada reclamou. Então, a partir dali, ele começou a demonstrar que era um espírito curador e nessa ocasião nós já tínhamos o passe de cura na casa da nossa irmã Cidinha.
Eu nem sempre identificava os espíritos envolvidos no trabalho, mas o Dr. Hermann foi assumindo cada vez mais a direção dos serviços e cada vez mais mostrando a sua enorme capacidade curadora e, simultaneamente, a sua capacidade de aglutinar os trabalhos espirituais e os trabalhadores espirituais em torno dele. Devo dizer que quando começamos as atividades do Centro Espírita Léon Denis todos os médiuns ali presentes já eram trabalhadores experimentados, isto é, já eram pessoas que tinham suas próprias definições mediúnicas: a Cidinha, o Gildo, a Neuza, a D. Glória e a Elvira. Outras pessoas que também participaram da fundação do Centro foram: a Dulce, o Adílio, então com quatorze anos, o Osmar, o Sílvio e a Ester. Todos esses companheiros, exceto o Adílio, tinham já tarefas definidas em vários Centros Espíritas; eu próprio já trabalhava em outro Centro Espírita. Então, todos os médiuns já tinham uma definição de trabalho mediúnico e o Dr. Hermann, em lá chegando assumiu a direção dos trabalhos, colocando-se à frente de todos esses trabalhadores.

Volto a dizer que, entre os espíritos, nunca vi tentativa de oposição; pelo menos na Casa de Léon Denis. Sempre vi o Dr. Hermann aglutinando carinhosamente outros espíritos, sem parecer ser mais do que ninguém.
Ele nunca me deixou ver se era mais do que os outros e nunca me deixou falar qualquer coisa nesse sentido. Ele apenas foi aglutinando, juntando esses trabalhadores todos em torno de si e colocando os trabalhos sob sua direção, dando chances a todos, também, mas assumindo a liderança. Volto a dizer, ele jamais me deixou ver se eles são mais capacitados ou não, e eles, por sua vez, também nunca fizeram nenhuma questão de querer parecer o que não eram; que eram donos de tarefas ou que eram mais do que o Dr. Hermann, absolutamente.
Quem sempre disse para mim que dirigiu trabalho foi Balthazar. Foi o único que sempre disse: “Olha, quem manda aqui no trabalho sou eu e está acabado”. O Dr. Hermann, devo dizer a vocês que jamais o vi fazer alguma coisa nesse sentido, mas sempre vi seu poder de aglutinação. As curas que ele fez seriam inumeráveis e eu não teria como descrever.
Lembro- me de muitos, muitos casos interessantes em que ele foi mostrando a sua capacidade de curar

e resolver problemas bastante sérios. Vi vários casos interessantes que eu poderia relatar à medida que fosse recordando.
Dr. Hermann, com seu poder de direção e de aglutinação, foi crescendo naturalmente. Muitas vezes, eu o vi trazendo espíritos de soldados alemães, que eu identificava pela farda, em pequenos grupos, ou dezenas deles. Eu o via dirigindo o serviço com toda a energia, com toda a capacidade, com toda a força de trabalho e até dando ordens enérgicas para aqueles soldados que ele trazia, como quem tem autoridade realmente.
Uma outra característica dele que observei, ao longo dos anos, foi o seu poder de intercessão. Vi-o interceder por espíritos doentes, encarnados, desencarnados, agindo no sentido de colocar as coisas num nível, numa posição em que as pessoas pudessem ser ajudadas. Uma coisa que eu posso assegurar a vocês é que ele também sempre me pôs debaixo de um certo nível de tranqüilidade, porque eu mesmo, muitas vezes, na direção da Casa, como ser humano, queria tomar certas providências junto a certas pessoas, junto a certos médiuns e ele me dizia que tivesse calma, paciência, boa vontade e, acima de tudo, compreensão profunda das dificuldades das pessoas.

Ele sempre foi muito amigo de todos, nesse ponto. Às vezes, eu mesmo dizia para ele: “Dr. Hermann, o senhor não está vendo que tal pessoa está agindo de um modo que vai acabar atrapalhando o trabalho?” E ele respondia: “Eu estou vendo, mas ele só vai atrapalhar se você deixar. Você está consciente do fato e já pode tomar suas providências para que ele não atrapalhe o serviço”. Dessa forma, ele demonstrou sempre uma compreensão muito grande das dificuldades dos outros e capacidade de auxiliar as pessoas a resolver os seus problemas. Não ficam aqui enumerados todos os fatos. Continuarei mais tarde a falar sobre ele, sobre o trabalho que ele faz, relatando alguns detalhes específicos.
Dr. Hermann, portanto, sempre foi um espírito muito compreensivo, como vocês já puderam ouvir e sentir pelas declarações que tenho dado. Foi visto pela primeira vez por D. Glória, a pessoa que nos cedeu sua casa, para iniciarmos o trabalho do Centro. Era na casa dela que realizávamos as nossas reuniões, aos sábados. Os trabalhos de cura e desobsessão fazíamos no lar de Cidinha e Argeu.
D. Glória, como já disse, tinha uma característica muito peculiar: ela fazia suas preces com um copo d’água junto a si, impondo as,

mãos sobre a cabeça daqueles que chegavam até ela com muita dor de cabeça, com muito mal-estar. Dessa forma, tinha o poder de socorrer essas pessoas. D. Glória lia o Evangelho numa página qualquer, ela mesma fazia a prece e impunha a mão sobre a cabeça da criatura com dor, e assim permanecia de cinco a dez minutos. Aquela pessoa, então, dizia-se totalmente aliviada da dor.
D. Glória era, portanto, uma médium de cura muito interessante. Ela aprendeu a fazer suas preces com aquele copo d’água, fazendo questão de mantê-lo em cada trabalho de cura que realizava, e foi naquele copo d’água que desenvolveu a vidência. Através dele via muitos espíritos e, às vezes, podia até perceber os problemas de quem ia buscar socorro. Ela via refletido no copo d’água o problema da criatura e o seu guia espiritual. Seu processo de vidência era, segundo ela, através daquele copo d’água. E foi assim que ela viu o Dr. Hermann, ainda no período em que trabalhávamos em sua casa, sem que eu houvesse ainda tomado conhecimento da existência dele. Na ocasião, ela me perguntou: _Você conhece um espírito de estatura mediana para baixa, mais para gordo, um rosto muito vermelho, de óculos redondinho?

Eu respondi que não o conhecia nem sabia quem ele era, e ela me disse: _Pois é, eu estava fazendo a prece_ e ela citou o nome da pessoa a quem a prece se dirigia, uma vizinha ou outra pessoa qualquer_quando o vi. E continuou: _ Muitas vezes, eu vejo esse espírito dando passe numa pessoa e esta se sentindo aliviada.
Eu, realmente, não sabia de quem se tratava; não fazia a menor idéia de quem fosse. Os anos se passaram…
D. Glória freqüentemente me contava que via esse espírito. Um dia, na casa de Brunilde, diretora do Lar de Teresa, vi um retrato na parede em que reconheci o espírito que a D. Glória via. Perguntei quem era ele e Brunilde me respondeu: “Este espírito é o Dr. Hermann”. Contou- me, então, que ele aparecia na Cabana Antonio de Aquino, na Rua Paula Souza, no Maracanã, e que trabalhava lá, e trabalhava muito. Disse-me, ainda, que o retrato havia sido produzido mediunicamente pela Dinorá Simas Enéias, então médium desenhista do local, através de quem aquele espírito receitava. Muitos anos antes ele se apresentara lá e trabalhava no receituário homeopático, através da D. Dinorá. Reconheci o espírito que ali estava, mas não liguei maior importância ao fato.
Mudamo-nos da casa da D. Glória. Naquela época, quem falava e dava mensagem era o Espírito Balthazar.

Muitas vezes, vimos o Dr. Bezerra de Menezes ajudando no Centro. Algumas vezes, o via no ponto do ônibus. Lembro-me de que D. Glória tinha uma mesa na sala de jantar, uma mesa retangular. Eu me sentava à cabeceira dessa mesa e costumava ver Dr. Bezerra de Menezes durante o passe. Um dia, ele apontou para “O Livro dos Espíritos” e “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, à minha frente, e disse-me: “Enquanto vocês seguirem esses dois livros, eu estarei aqui. No dia em que deixarem de segui- los, eu, com certeza, me apartarei daqui da reunião e vocês não me verão tão cedo. Tomamos aquelas palavras como orientação e, em todos os trabalhos que temos aqui na nossa Casa, fazemos questão de ler uma página do Evangelho, justamente porque faz parte da nossa própria vida, e também porque, afinal de contas, foi o guia espiritual que determinou que não nos esquecêssemos do Evangelho. Minhas atitudes, aqui na Casa, portanto, foram oriundas de pequenas informações que fui recebendo no decorrer dos anos. Não descuidamos da orientação de leitura de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho Segundo o Espiritismo, muito embora já fizéssemos o estudo daqueles livros, bem como de O Livro dos Médiuns. Sempre estudamos, aqui na Casa, estes três livros: O Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Médiuns.

O Espírito Scheilla também costumava aparecer, e outros espíritos davam só o sinal de sua presença, na casa da nossa querida irmã Glória. Quando nos instalamos em Bento Ribeiro, na sede atual do Centro Espírita Léon Denis, o Espírito Balthazar me avisou que, a partir de então, iria aparecer menos e que viria um espírito habituado a lidar com multidões, já que ele, Balthazar, não era afeito a esse tipo de tarefa. Esse espírito viria para trabalhar no Centro e tocar toda a atividade da Casa. Perguntei se ele iria nos deixar. E ele respondeu Absolutamente. Eu continuo como diretor da Casa. As atividades continuarão sendo decididas, direcionadas por mim. A expressão que ele usou foi “direcionadas”. E prosseguiu: _ Esse espírito realmente ficará à testa de muitos trabalhos e, quando houver qualquer dúvida, prevalecerá o que eu disser.
Balthazar assim me falou e, dali por diante, passei a receber um espírito com sotaque alemão. Inicialmente, pensei tratar-se de Scheilla. Interessante é que intimamente eu sentia que não era ela. Percebia uma personalidade diferente; tinha a impressão de que era um homem, até que, um dia, eu o vi.
Novamente, reconheci no quadro que estava na casa de Brunilde a figura do Dr. Hermann.

Voltei à casa de Brunilde, para o culto, com a imagem dele na minha retina espiritual. Diante do retrato, não tive dúvida: era ele. A partir dali, então, tendo identificado o espírito, fiquei mais à vontade na recepção da mensagem, e ele, naturalmente, com mais força para trabalhar, uma vez que eu mesmo já não criava mais obstáculos à sua presença junto a mim.
Dr. Hermann passou a se comunicar, e eu fiquei muito atento à responsabilidade que cabia a ele, que era praticamente assumir toda a direção do trabalho da Casa, que, assim, foi conduzindo. Balthazar aparecia, dava orientações, se fazia presente, mas Dr. Hermann estava vinte e quatro horas por dia, praticamente, no Centro, quer no trabalho do passe, quer no trabalho da desobssessão, no trabalho da Mallet… Sua presença era contínua. Um fato interessante aconteceu em meu antigo local de trabalho, o Instituto de Resseguros do Brasil. Havia lá uma senhora chamada Ivone, que me apoiava muito, me ajudou muito, sendo ela uma funcionária graduada e eu, uma pessoa de graduação bem singela, na Instituição. Um dia, dizendo saber- me espírita, ela me pediu socorro para seu pai, que estava muito doente. Chamei por Dr. Hermann que de imediato me passou as orientações, referindo-se ao enfermo com certa intimidade.

Não sei precisar mais qual foi a medicação, mas lembro-me de que percebi a familiaridade com que se dirigiu ao pai daquela senhora. Ao entregar a ela a orientação, perguntei-lhe se conhecia a assinatura no final da mensagem. Ela, então, me respondeu: _Claro que conheço. É o espírito que trabalhava com a D. Dinorá e que já me ajudou muito. Eu tinha hipertireoidismo, e que ele praticamente me curou, com prescrições homeopáticas. E complementou: _Ele sempre cuidou do meu pai.
Compreendi, então, a orientação que ele dera e a liberdade com que se dirigia àquele espírito, que já conhecia desde muitos anos. D. Ivone me disse ainda que ela e o pai deixaram de se consultar com ele serviço. D. Ivone, a senhora de quem o Dr. Hermann tratara, era secretária desse Presidente. quando D. Dinorá interrompeu suas atividades mediúnicas.
Houve um episódio marcante na minha vida pública naquela empresa. Meu contrato de trabalho de três ou quatro anos, mais ou menos, estava expirando, e eu estava passando por uma necessidade financeira muito severa. Não poderia perder aquele emprego, pois minha vida ficaria muito complicada. Dirigi-me ao então Presidente da casa, para pedir-lhe que renovasse o meu contrato de serviço. D. Ivone, a senhora de quem,

o Dr. Hermann tratara, era secretária desse Presidente. Ela interferiu em meu favor, junto a ele, argumentando: _O Senhor pode perfeitamente ajudar esse menino_ na época eu estava com dezessete anos_ porque ele é um trabalhador bom e tem futuro aqui na casa. Não fique com ele por um período tão curto. Ele pode ser perfeitamente aproveitado.
Ele, então, resolveu aproveitar a minha presença lá, por interferência daquela senhora, a quem Dr. Hermann atendia, através da D. Dinorá, fato de que eu só tomaria conhecimento vinte anos mais tarde. Em verdade, Dr. Hermann já a conhecia, e foi através dela que interferiu junto ao Presidente por minha causa. Percebi, assim, que ele já me protegia naquela época, e que me protegeu através de D. Ivone, nterferindo para que eu pudesse ter o emprego que, afinal de contas, me sustentaria até o tempo em que pudesse me aposentar. A presença dele junto a mim, uma presença contínua, me ajudou muito, nessa ocasião.
No Centro, muitas vezes, como já disse, ele interfere, fazendo com que as pessoas entendam as regras, e fazendo com que eu entenda as pessoas. Em alguns momentos, em que quero tomar uma atitude mais enérgica, mais endurecida, me diz que não faça isso, que eu tenha paciência, que eu compreenda.

Enfim, ele tem sido um benfeitor de muito carinho, muita amizade, muita determinação e muito apoio também. Eu posso perfeitamente dizer que sem ele teria mais dificuldade ou mesmo não teria capacidade de levar adiante esta Casa Espírita tão grande quanto está, como sempre foi, como está atualmente.
A presença dele também junto a nós se faz sentir em várias situações na sessão de desobsessão. Eu aprendi muito com os espíritos, e particularmente com ele, na direção dos trabalhos mediúnicos. Ele mesmo doutrina os espíritos, consola os espíritos sofredores. Não discute com os obsessores, nem com os sofredores; mas vai levando a conversa de um tal modo, que eu me surpreendo. Às vezes, eu acompanho o seu raciocínio, principalmente quando ele está usando a mediunidade psicofônica. Eu escuto o seu raciocínio nessas horas. Então, vejo-o levando espíritos por um caminho e me perco na linha de raciocínio. Eu digo assim: “Aonde ele quer chegar? Aonde chegará com essa informação? Como é que ele vai fazer o espírito entender alguma coisa?” E eu penso que o espírito não vai entender o que ele está falando. Não é surpresa quando, de repente, ele fecha o seu raciocínio, tornando-o de tal modo objetivo, fechadinho, redondinho, que o sofredor não tem por onde escapar daquele raciocínio.

Por outro lado, já o vi dizer assim: “Eu não estou sendo capaz de doutrinar este espírito”. Ele mostra que não é suficiente. Ele, pura e simplesmente diz: “Não estou sendo capaz de raciocinar com esse espírito”. Um exemplo que eu tive muito interessante foi quando ele disse, num trabalho de desobssessão, que iria sair do meu corpo para que viesse outro espírito mais simples, mas com melhor capacidade de falar com os sofredores que estavam ali naquela mesa. Vejam vocês que coisa interessante! Ele, com toda a capacidade, com todo o amor que tem, disse que não iria insistir, pois não estava chegando a lugar algum. Depois de uma sessão de cinco a dez minutos, ele detectou que não conseguiria, com todo o Evangelho que possui, fazer o espírito dobrar-se. Disse isso e passou a missão para o outro. Nessa ocasião, veio um outro espírito, por mim mesmo, um guia notoriamente inferior a ele, moralmente, que conseguiu dobrar todo aquele grupo de espíritos sofredores que ali estavam.
Quando Dr. Hermann incorporou, novamente, depois que esse outro espírito conseguiu fazer a doutrinação, eu perguntei: _Por que o senhor deixou que o outro assimisse a direção do trabalho, já que o senhor tem mais capacidade do que ele? Ele respondeu: _Simplesmente porque a necessidade era dos sofredores.

De que adiantava eu estar falando para um espírito sofredor que não estivesse me entendendo? Eu não seria capaz de conseguir atingi-lo. Não te parece muito mais prático, mais fácil, chamar uma outra pessoa para fazar aquilo que você não sabe fazer?
Eu fiquei sem argumento. Às vezes, queremos impor nosso pensamento, nosso raciocínio, quando seria muito mais fácil chamar alguém mais capacitado do que nós e deixá-lo agir, em nosso lugar. Ele demonstrou também, nessa hora, que não deseja nenhum poder; que apenas quer ver os espíritos sendo socorridos.

Essa é uma outra característica dele. Já vi Dr. Hermann juntar casais, muitos casais em via de separação, pedindo que as pessoas raciocinassem e observassem não quem estava com a razão, mas sim quem mais precisava do outro. Uma esposa que queria se separar do disse-me, então: _ De fato, meu marido precisa tanto de mim… E eu lhe perguntei: _Você, então, não se separa só porque ele precisa de você? E o sentimento de amor, como é que fica? Ela me respondeu: _Bem, vou tentar criar novamente esse sentimento de amor por ele.

Neuza Trindade ~

Em 1961, minha mãe ficou doente. Foi acometida por uma alergia que lhe deixou o rosto todo empolado e, por isso, eu a levei a uma clínica em Madureira, que ficava localizada em cima da antiga Ducal.
Enquanto aguardávamos a vez, eu me sentei ao lado de uma senhora, e minha mãe, em frente a mim. Tal senhora, olhando o livro que eu estava lendo, Os Mensageiros, de André Luiz, perguntou: “Você é filha da Maria? Respondi-lhe que sim e perguntei-lhe se a conhecia. Após responder afirmativamente, acrescentou que eram amigas de infância, que nasceu em Governador Portela, cidade do interior, um pouco antes de Miguel Pereira, onde foram criadas. Naquele instante, a pessoa sentada ao lado de minha mãe levantou-se e aquela senhora foi sentar-se ao seu lado, aconselhando-me, antes, a ler o livro Nosso Lar, para depois continuar a ler Os Mensageiros. Respondi-lhe que não conhecia tal livro e que havia comprado aquele e que estava, então, iniciando a sua leitura. 

Disse-lhe, ainda, que já era espírita e já sabia que era médium. Aquela senhora era a D. Glória. Ela e minha mãe conversaram, e ficou então combinado que no domingo seguinte ela levaria minha mãe a um centro espírita, chamado Carpinteiro José, em Sulacap.
No dia marcado, D. Glória e sua filha Geni passaram em nossa casa, em Bento Ribeiro. Fomos conhecer o tal centro, em Sulacap. Dirigindo-se à minha mãe, D. Glória disse-lhe que aquilo que lhe estava acontecendo devia-se a “obrigação” feita de forma errada. Tal diálogo aconteceu porque as duas conheciam os trabalhos de Umbanda, em terreiro.
Assim que chegamos ao Centro Carpinteiro José, conheci a Cidinha e também o Altivo, que, naquela época, era bem jovenzinho, mais ou menos nos seus vinte e três anos, e fazia evangelização de crianças. Ele não era médium daquele centro e sua atividade ali era somente a de evangelizar as crianças.

Foi dessa forma que conheci o Hermenegildo. Ele dirigia os trabalhos no Centro Carpinteiro José. Passamos a freqüentar as reuniões às quartas-feiras, seguindo orientação da Casa.
Na segunda visita que fizemos ao centro, o Espírito João, que então se assinava Pai João, e que ainda hoje trabalha com a Cidinha, perguntou- me se eu não gostaria de fazer parte do estudo com ele e também do curso do Evangelho, pois ele estudava a Doutrina Espírita, em Bento Ribeiro, na Rua Tereza dos Santos, residência de D. Glória, onde era realizado um culto.
Naquela semana, eu e a Geni fomos ao culto. Lá, encontramos a Cidinha. Nesse segundo contato meu com a Cidinha, fizemos o culto do Evangelho. Ela nos comunicou, então, que mudaria o dia para sábado, em virtude de um maior fluxo de pessoas, que continuavam a chegar todas as semanas.
Acompanhada de minhas irmãs Elvira e Gilda, lá chegamos e encontramos a mesa formada: na cabeceira estava o Altivo e a seu lado, D. Glória. Do outro lado, estavam D. ??????, Geni e outra senhora que ocupava a outra cabeceira.
Quando terminava o culto, o Altivo conversava conosco sobre a doutrina e sobre o tema de trabalho. Lá não se fazia trabalho mediúnico, somente estudo.

No final, recebíamos a mensagem do Espírito Balthazar. Ao final do culto, após a mensagem espiritual, D. Glória sempre nos oferecia um cafezinho com biscoitos. Passamos, então, a levar, também, bolo e biscoitos.
O afluxo de pessoas continuava. Meu irmão Gildo, que estava deixando, então, o terreiro, disse-me, certa vez, que não queria mais saber daquele tipo de trabalho. Isso me deu oportunidade de lhe fazer um convite para ir conosco estudar na casa de D. Glória.
Com a chegada do nosso irmão Gildo, totalizamos umas seis pessoas. Depois, outras amigas minhas foram por mim convidadas: a Nair Guilino, grande amiga, Idiá e outras. O Gildo levou também alguns amigos seus do centro que freqüentava. Assim, passamos a levar mais e mais amigos e, com isso, em pouco tempo, o espaço físico da sala não comportava mais ninguém.
É bom notar que, durante a semana, funcionava, naquela sala, uma oficina de corte e costura, e as máquinas eram usadas como bancos, tal a quantidade de pessoas que para lá iam participar das reuniões. As pessoas ocupavam os corredores, a cozinha. Foi ali, exatamente, que conheci D. Yvonne Pereira, que nos foi visitar num dia de culto.

As pessoas foram se aproximando cada vez mais, chegando a sala a ficar lotada e, assim, não tínhamos lugar para fazer trabalho mediúnico.
Ao trabalho na Sulacap, continuávamos indo aos domingos. Nesse mesmo ano, 1961, o Altivo conseguiu que uma senhora freqüentadora do local levasse uma panela de sopa para umas mulheres da favela da Mallet, que iam lá para tratamento espiritual.
Lá na Sulacap, havia um orfanato com o nome de Lar de Soninha ou Casa da Santa / Madre Soninha, onde as crianças estavam sendo evangelizadas. Essas crianças iam da Mallet para lá, a fim de serem tratadas com passe e orientação ministrada por “Pai João”. Ressalta-se que o Altivo não trabalhava mediunicamente e atendia as crianças e suas mães, organizando todos para receber o passe.
A distância que separa a Mallet de Sulacap é bem acentuada, e essas pessoas faziam esse percurso a pé. Altivo pediu que se fizesse aquela sopa, e aí começamos a levar pratos, talheres, etc. As pessoas tomavam a sopa e nós lavamos os pratos, talheres, vasilhas, no meio do quintal, numa torneira que improvisaram. Com isso, aquelas pessoas passaram a ser visitadas pelos grupos que se formavam. Nessa época, o Altivo começou a fazer visitas. A cada sábado, pela manhã todos íamos com ele visitar

uma família. O trabalho da Mallet foi crescendo e dessa decorrência foi aumentando, também, a quantidade de sopa. Uma panela de sete litros já não mais era suficiente, e assim, foi-se usando uma panela cada vez maior, para atender a todas as pessoas.
Um dia, alguém chegou com uma moça da favela da Mallet que desejava doar uma criança que ainda iria nascer. Esse fato, bastante interessante, marcou muito aquela moça, de nome Maria / Augusta, que já tinha um filhinho e trabalhava numa casa de família e, por ter ficado grávida, recebeu da patroa a advertência de que, se nascesse aquela criança, não mais poderia tê- la como empregada. Para agravar mais ainda a situação, sua mãe, que tomava conta do menino, disse que não poderia também tomar conta de uma outra criança.
Foi através dessa moça, moradora da Mallet, que conhecemos o Sr. Orlando Passos, que lhe alugava um cômodo. Esse senhor passou a ir receber socorro espiritual, lá, na Sulacap. Sr. Orlando tinha, na frente da casa em que morava, que era uma casa de cômodos, uma parte desocupada, que ofereceu ao Altivo. O Altivo passou, então, a procurar um outro local por ali mesmo, na Mallet, para que não precisássemos nos deslocar, e desse modo chegou a alugar a casa da Rua Newton, cujo cômodo da frente serviu para atender às pessoas.

Em vista disso, nós passamos a ir direto para a Mallet, em vez de irmos para Sulacap. Aos domingos, às 15h, e aos sábados, à noite, estávamos ali, na Rua Conde de Rezende.
O número de pessoas da favela foi crescendo e, também, foram aumentando as panelas de sopa. Como nunca parou de chegar gente para ser assistida, cada um dava sua colaboração, levando o que podia, ou arranjava com os amigos. Assim, o trabalho foi crescendo.
Nessa época, o Dr. Hermann já havia se aproximado e passou a fazer, lá na Rua Newton, atendimento espiritual e, como médico, receitava remédios.
Dessa aproximação, cabe melhor ao Altivo falar, porque quem tomava as iniciativas era o Espírito Balthazar, que dava as orientações. Caso o atendimento fosse nas casas, o Espírito Balthazar orientava da necessidade de nos reunirmos em lugar para fazermos a prece e até mesmo organizar a visita. Foi por isso que começamos a fazer do culto, na casa de D. Glória, uma característica diferente de centro espírita.
Nessa época, o Altivo sentiu a aproximação do Dr. Hermann. Foi então que o Espírito Balthazar o visou de que o Dr. Hermann iria assumir o trabalho.

É bom ressaltar que isso se deu porque o Altivo sempre possuiu mediunidade de cura, trabalhando nessa seara, em outro centro, fazendo atendimento às pessoas necessitadas.
A Cidinha sempre o acompanhava, pois se conheceram no Carpinteiro José, de onde partiam para visitar as pessoas. Sempre que visitavam as casas, percebiam aquelas onde havia a necessidade de fazer um trabalho de desobsessão. Foi quando concluíram que havia a necessidade de se iniciar um trabalho de desobsessão. Isso foi iniciado na casa da Cidinha, assim como o passe de cura. As pessoas se deslocavam daqui de perto até lá, às terças-feiras. Por causa disso e, como já éramos médiuns trabalhando nesse mister, a casa ficou caracterizada como sendo de cura.
Como não havia tempo para se tratar de todos os trabalhos aos sábados, foi criada, então, uma aula extra, na casa da Haidéa, que, com a maior boa vontade, nos proporcionou espaço e conforto para a realização daquele estudo. Começamos, assim, a estudar as obras de André Luiz. Como a casa de D. Glória e a Mallet não comportavam mais pessoas, o Altivo tomou a iniciativa de perguntar ao Plano Espiritual se era permitido fundar um centro espírita.

Já haviam passados cinco anos de estudos, quando houve permissão para que fosse providenciado um terreno, a fim de se construir o centro. Sílvio, que juntamente com seu irmão Osmar Teixeira, já desencarnado, freqüentava o grupo, morava neste loteamento da Rua B, e falou que havia um rapaz que desejava vender um terreno. Ao sairmos da casa de D. Glória, após o término da reunião de sábado, dirigíamo-nos para o local. Não havia, na época, o supermercado, assim como nenhuma das outras casas. Foi só aí que começamos a pensar em comprar uma casa. Com isso, fomos aprendendo, desde cedo, que era necessário trabalhar muito com o pensamento, com disciplina e de acordo com a orientação do Plano Espiritual.
O Espírito Dr. Hermann, sempre que necessário, dava-nos orientação. Disse que nós precisávamos fundar o centro, na realidade, até como se fôssemos uma família, nos respeitando, procurando e protegendo, uns aos outros. Não precisaríamos viver nas casas uns dos outros, mas que fizéssemos amizades e conservássemos essas amizades; que cultivássemos a amizade, nos visitássemos e procurássemos entender a necessidade uns dos outros, em todos os momentos. Dr. Hermann procurou incentivar-nos a trabalhar e a sermos amigos, pois isso é um respeito que devemos ter.

Outra atitude nobre desse espírito foi ensinar àqueles que chegavam a questão do anfitrião, que é aquele que abre as portas para o que chega; que recebe; que apresenta; que conduz; que mostra a casa; que apresenta mesmo uma linha de frente, para ninguém ficar de fora e, sim, pertencer sempre ao grupo. Chamava ainda a atenção para o cuidado que se deve ter para não se fundar grupo dentro do grupo e, enquanto isso, estávamos recebendo muita orientação, muita disciplina, muito “aperto” mesmo. Podemos, mesmo, afirmar que foi muito pesado, para todos nós, o trabalho exigido por ele, do qual quase não dávamos conta. Tal trabalho exigido não era nada mais, nada menos que disciplina. Disciplina de horário que tem de ser cumprido; disciplina no comportamento; no falar; o cuidado para não falar dos outros, e isso ele nunca permitiu; mas ainda assim as pessoas falam, o que não deixa de ser indisciplina.
Foi desse modo que vimos a casa crescer. Durante a sua construção, depois de concluído o primeiro compartimento, onde existem os banheiros e a sala Ignácio Bittencourt, que é a sala menor que existe aqui embaixo, havia uma portinha, onde funcionava uma pequena livraria e depois uma outra salinha, onde era ministrado o passe de cura e, também, onde se fazia atendimnto às pessoas que estavam com pro blemas de nervos.

Certa vez, na sala Ignácio Bittencourt, o Altivo falou que não era mais necessário fazer reunião na casa das pessoas e que todos os trabalhos seriam realizados aqui, no centro. Foi então que se começou a procurar um nome para a instituição. O Altivo chegou a pensar em colocar o nome de Centro Allan Kardec, em homenagem ao Codificador. Como já havia muitos centros com esse nome, ele chegou a pensar em colocar o nome de Dr. Hermann, em sua homenagem, pela força do trabalho que ele nos incentivava a realizar. Nessa época, já estávamos trabalhando aqui, no Léon Denis, ou elhor, no culto, pois nunca dizíamos que íamos ao centro e, sim, dizíamos que íamos ao culto de terça-feira e à reunião de sábado.
As reuniões de terças-feiras eram dedicadas à cura e nós começamos, então, a desenvolver sessões de irradiação, que também já eram realizadas na casa da Cidinha, às quintas-feiras. Com isso, a semana foi ficando toda tomada. Nessa época, a sala Deolindo Amorim estava sendo construída. Todos trabalhavam muito para angariar fundos, e foi aí que algumas amigas sugeriram que se

formasse um bazar para vender roupas e outras coisas mais. O primeiro bazar foi realizado em 1967, na minha casa, ainda novinha, pois eu estava recém- casada, e todas as dependências foram ocupadas. Essa foi a nossa primeira experiência.
Antes disso, perguntou-se ao Espírito Balthazar se havia permissão para se fundar um bazar e sua resposta foi categoricamente negativa, pois, disse ele, não seria uma boa coisa. Após muita insistência e depois de explicar que a meta era conseguir fundos para a compra de materiais de construção, que estava muito difícil conseguir verbas, pois todos eram muito pobres e ganhavam pouco, ele acabou concordando, dizendo, então, que iríamos viver uma grande experiência. Essas palavras nunca serão esquecidas, pois foi, realmente, uma grande experiência e seria vivida por todos, com aquele bazar, porque deixou ele claro que nunca se poderia misturar bazar com comércio dentro do centro.
Quando as salas ficaram prontas e havia a necessidade de um nome para o centro, a fim de se conseguir o habite- se, decidiu-se que ele se chamaria LÉON DENIS.

Fonte: Livreto de Aniversário do CELD 2006
Balthazar e Caibar Schutel
Neuza Trindade
Dr. Hermann
Ativo Pamphiro e Léon Denis
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